A importância de se ter um interlocutor é um fato comum dos três depoimentos em questão. Este interlocutor pode ser o professor que dá as instruções do texto ou a opinião do amigo. O prazer na leitura e na escrita também é algo comum na fala dos três autores. Isto demonstra que além de se ter consciência de para quem se fala é preciso encontrar algo no texto com que o autor e também interlocutor se identifiquem, para que o texto tenha a continuidade, uma expressão. Quando comecei realmente a ler foi também desta forma; apenas aprendi a ler quando encontrei alguém para falar de assuntos que me agradassem.
Os primeiros anos foram muito difíceis, sem nenhum sentido. Era uma mera obrigação escolar, assim como foi minha primeira série. Como se fosse ontem ainda me lembro da minha avó me mostrando insistentemente a palavra “CASA”. Na prova oral, aquela palavra parecia praticamente impossível. Lembro-me do meu pai, muito bravo por eu ter escrito em uma das lições a palavra “mome” ao invés de “nome”. A compreensão das primeiras palavras, e os exercícios de escrita eram muito difíceis. Nas férias de julho, a professora havia pedido para copiar três vezes todos os dias a lição de um capítulo do livro. O texto era curto e se tratava das peripécias de um gato atrás de um rato, e apesar de gostar daquele texto, naquele tempo para mim era algo extremamente cansativo. Foi a supervisão de minha mãe que garantiu que todas a lições fossem realizadas religiosamente, e no retorno ás aulas fui uma dos poucos alunos que conseguiram realizar a árdua tarefa. O mérito é claro, era de minha mãe. Foi no final do ano que encontrei sentido nas palavras. Havia uma brincadeira de se escrever a palavra “AI” na mão do colega, e para que ele adivinhasse a palavra se apertava a mão dele com a caneta, então a interjieção era "adivinhada". Outro fato marcante era um texto, no final do livro, se tratava da música 'a galinha pintadinha', muito conhecida hoje, mas em outra versão muito simples, junto havia um desenho representando a história, quando depois de ouvir alguns colegas recitando comecei a compreender e a ler também.
Claro que depois deste texto e desta série houveram outros textos, outras séries e outros anos. E demoraria muito para eu me apropriar da escrita como a tenho hoje. Na verdade a escrita na vida de uma pessoa é feita de várias fases, várias apropriações, vários entendimentos.E de certa forma estamos sempre aprendendo,modificando e relendo.
Para gostar de ler e apreciar essa prática, é preciso ver sentido e sentir-se provocado, instigado a conhecer um pouco mais do assunto, às vezes essa vontade só vem com o tempo.
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