"Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever-inclusive a sua própria história."

segunda-feira, 17 de junho de 2013



Situação de Aprendizagem com o texto: Meu primeiro Beijo

ELAINE TEIXEIRA SANTOS


Texto a ser trabalhado –  Meu primeiro beijo de Antônio Barreto

Objetivos: trabalhar a tipologia narrativa com enfoque no conto mobilizando as habilidades de leitura, escrita e compreensão, além de despertar a sensibilidade para o texto literário.

Público-alvo: 9º ano

Tempo/duração: 6 aulas

Conteúdos: os elementos constitutivos dos textos narrativos, compreensão e apreciação de texto literário, estudo de aspectos linguÍsticos, oralidade, estratégias de pré-leitura, estruturação da atividade escrita e estratégias de pós-leitura.
Competências e habilidades trabalhadas: análise de textos literários com levantamento de hipóteses,  localização de informações explícitas e implícitas no texto, leitura e compreensão.
Estratégias: leitura individual e compartilhada, discussão oral sobre texto e preenchimento de ficha organizativa.
Recursos: Data show, Notebook,dicionário, cópias do texto  “Meu primeiro beijo".
Avaliação: O processo de avaliação deve acontecer de maneira contínua durante as atividades realizadas.

REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES


Antes da leitura

 Mostrar imagens relacionadas ao texto Meu primeiro beijo de Antonio Barreto no data show e lançar questões sobre o título do texto. Após a discussão, entregar o texto impresso para os alunos e pedir a leitura individual e silenciosa. 

·     O que  as imagens lhes sugerem?
·     Ao ler o título do texto, o que ele lhe sugeriu?
·     Beijar pela primeira vez deve ser considerado um acontecimento especial?
·     Existe  idade certa para acontecer o primeiro beijo?
·     Vocês já conheciam esse texto? O que acharam dele? 
·     Você consegue pensar em outros textos com o mesmo tema? Qual?

Durante a leitura

Confirmar ou retificar as antecipações realizadas, trabalhar no aspecto tipológico (narrar) os aspectos linguísticos do texto, identificar palavras cujos sinônimos sejam desconhecidos, analisar os elementos da narrativa, identificar referências a outros textos relacionados ao tema, construir sentido global do texto.

·         Tem alguma(s) palavra(s) que você desconhece no texto? Procure encontrar um sinônimo a ela(s). Somente depois de feito, consulte um    dicionário para confirmar.

·         Quais são as personagens principais do texto?
·         Onde ocorre a história?
·         Em que época?
·         De que trata a história?

·         Existe alguma relação do texto lido com alguma outra disciplina que você estuda? Qual? Por quê?
·         Você acha que o apelido do rapaz era "cultura inútil" por qual motivo? O que você acha de apelidos?

·         Observando o ano em que foi escrito o texto, você acredita que nos dias de hoje as expectativas em relação ao primeiro beijo continuam iguais? Por quê?
·         Qual o foco narrativo utilizado pelo autor? Há alguma intenção o autor nessa escolha?
·         Qual figura de linguagem foi usada na frase "Você é a glicose do meu metabolismo"?

·         Identifique os conectores empregados ao longo do texto e escreva a função de cada um para a construção de sentido nos períodos.

·         Percebemos que há diálogos do autor para com os leitores presentes no texto. Qual a intenção dessa estratégia numa leitura?

·         Cite as marcas de oralidade encontradas no texto. Transcreva o período em que apareçam estas marcas e reescreva-as sem utilizá-las.


Depois da leitura

·          Pesquisa sobre a biografia do autor.
·         Pesquisa de outros textos relacionados ao tema do texto trabalhado.
·         Construção de uma síntese do texto.
·         Preenchimento da ficha organizativa, recapitulando os aspectos principais da narrativa.


Referências


DOLZ, Joaquim e SCHNEUWLY, Bernard e colaboradores. Gêneros e progressão em expressão oral e escrita –elementos para reflexões sobre uma experiência suíça (Francófona). In: Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado das Letras, 2012. p. 35-60.

ROJO, Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania in Curso EaD/EFAP: Leitura e escrita em contexto digital, 2012 – Programa Práticas de leitura e escrita na contemporaneidade. Disponível em:
http://efp-ava.cursos.educacao.sp.gov.br/Content/328167,90D/Assets/conteudo_curso/modulo_01/unidade_04/rojo_2004.pdf%C2%A0Acesso em 28/05/2013

BARRETO, Antonio. Meu primeiro beijo. Balada do primeiro amor. São Paulo: FTD, 1977.p.134-6. Extraído de http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=22430

domingo, 9 de junho de 2013

Situação de aprendizagem para leitura

Texto "O avestruz"-



Ler; Legere "colher, escolher, recolher" como quando as pessoas selecionam e retiram do pé os melhores frutos, os melhores cachos.

"Odiei as palavras e as amei, e espero tê-las usado direito."


Neste primeiro momento o foco é apenas leitura e interpretação.
Para se trabalhar este texto em sala o ideal seria elaborar estratégias que façam com o que o próprio aluno encontre o significado da leitura, sem dizer a “resposta” da  interpretação.

Motivando a leitura:
Ativação de conhecimentos de mundo

Antes da leitura:
Oralidade: Perguntar aos alunos sobre o título do texto, “ Avestruz” :
Estabelecer previsões sobre a leitura a ser realizada: O que os alunos esperam ler? Escrever o título na lousa e listar as expectativas de cada aluno.As expectativas podem ser motivadas a partir de questionamentos como como:
-O título se refere a uma animal, ou objeto?Você já viu? Onde? Como é?
-Que tipo história você imagina ao ler este título?
-Você gostaria ganhar um avestruz de presente? Porquê?
-Já teve um animal de estimação? Que tipo de animal gostaria de ter?
-Quais datas importantes se pode ganhar algo de presente?

Antes da leitura
Pesquisa: Onde podemos encontrar o texto?Gênero: que tipo de texto iremos ler?Com uma história? tem diálogos? Explica alguma coisa?Quem é o autor?

Antes da leitura
Apresentação do texto
Leitura do texto para confirmação das hipóteses;
Selecionar alguns alunos voluntários e estabelecer ordem para cada um ler um parágrafo.

Durante a leitura
Leitura em voz alta pelo professor;
Leitura em voz alta pelos alunos.

Durante a leitura
Confirmação das antecipações realizadas;
Compreensão global do texto;
Identificação de léxico; no próprio texto pedir ao alunos grifar as palavras desconhecidas;
Listar estas palavras na lousa;
Fazer o registro destas palavras no caderno;

Durante a leitura
Cenário:
Onde ocorre a história?
Em que época?
Personagens:
De que trata a história?
Quais são os personagens da história?
Compreensão global do texto;
Socialização e confirmação de hipóteses.

Depois da leitura
-Troca de impressões;
-Apreciações estéticas: Vocês gostaram do texto?
-Inferir o significado das palavras a partir da leitura no texto e colocações do professor(importante não usar dicionário nem dizer significados)
-Registro;
-Avaliação e sugestão de outras leituras.
Depois a leitura
-Pesquisa sobre a vida do autor; nascimento, profissão, história de vida.
-Pesquisa sobre outros contos de Mário Prata e socialização em sala de aula.




Referências Bibliográficas
ROJO, Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. São Paulo: SEE: CENP, 2004.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto alegre: Artes médicas, 1998.
A ocasião faz o escritor: Caderno do Professor: Orientação para produção de textos ( Coleção da Olimpíada) São Paulo-Cenpec,2010.

sábado, 8 de junho de 2013

Situação de aprendizagem

PLANO DE AULA




Aguardando sugestões do grupo para escrita desta postagem até 17/06/2013

Análise do Texto - Avestruz



O Ovo do avestruz



Se ler nas entrelinhas é essencial para entender o mundo, imagina como é importante para se poder entender um texto. Principalmente se ele for altamente metafórico.

Explico o que se sucede.

Durante o encontro presencial do curso de formação, uma espécie de “reciclagem” para graduados em pleno exercício de carreira, a proposta, simples e direta era exercitar a leitura. Nem escrever, nem desenvolver tese de doutorado, apenas ler, e é claro, interpretar o que foi lido.

Mas me surpreendi ao perceber as- digamos - diferentes interpretações, seja por excesso de ego ou pela completa falta dela. Enquanto uns palestravam bem, uns tantos o faziam em excesso, e outros muitos se calavam, e neste grupo de calados eu também me estava.

Independente destes acontecimentos é importante relatar que no caso dos nove membros do meu grupo de leitura não houve acordo. Nenhum. Nem em termos de interpretação, nem em termos de considerar a opinião dos colegas. O resultado foi um “seminário” superficial, com uma leitura que ficou apenas na camada mais rasa.Felizmente, a avaliação imediata da professora sobre a apresentação percebeu e comentou imediatamente as falhas, sem contudo dizer diretamente quais eram elas, tampouco corrigindo-as.

O texto proposto a ser analisado pelo grupo foi “o Avestruz”.

O conto escrito em primeira pessoa narra à história de um menino que sonha em ganhar no seu aniversário de dez anos um avestruz. O enredo da história se desenvolve a partir do entrave que se gera a partir da impossibilidade de concretização do desejo do garoto, pelo fato dele morar em um pequeno apartamento na cidade.

Dentre as principais informações estão como ele passou a se interessar pelo bicho e todo o argumento utilizado pelo narrador para convencê-lo de que não era possível receber um avestruz de presente. De uma maneira bem humorada o narrador traz para o leitor diversas informações sobre o animal em questão, como dados biológicos, científicos e até desenvolve uma teoria de como o avestruz “ foi um erro da natureza”. Teoria esta um tanto preconceituosa.

Depois de toda a argumentação o narrador e também personagem consegue convencer o menino de que o avestruz não seria a sua mascote ideal. O garoto desistiu definitivamente do candidato a mascote ao tomar conhecimento de que o avestruz come de tudo “inclusive pedaços de ferro e madeiras. Joguinhos eletrônicos por exemplo”. E sendo assim, o amor pelos joguinhos foi maior que o desejo pela mascote.

No final do conto o narrador desiste de convencer o garoto pois ele decide trocar “ o avestruz por cinco gaivotas e um urubu”. A narrativa se encerra com o pedido do narrador a amiga; ela deveria levar o garoto a um psicólogo.

Mas agora vamos ao que interessa; a interpretação.
Em uma primeira leitura, inclusive influenciada pelo título “avestruz”, conclui-se que o tema principal do texto é o animal avestruz. Mas será mesmo?

Se substituíssemos o avestruz por uma vaca, as cinco gaivotas por cinco cabras, e o urubu por um porco, só mudaríamos de bichos, mas a questão do devaneio do garoto continuaria a mesma. Mas e as várias informações sobre o avestruz? Simples. Estas poderiam ser substituídas por também explicações biológicas e científicas sobre a vaca. Até a teoria sobre determinado bicho ser “um erro da natureza “poderia ser utilizada, era só aplicá-la na vaca; tamanho grande, quatro estômagos, ruminação...são inúmeras as informações possíveis.

Também poderia ser qualquer outro animal, como um peixe boi por exemplo. Seria necessário apenas a narrativa inserir o corpulento mamífero ao desejo do garoto e transmitir as informações da mesma forma que foi feito nas descrições do avestruz. 

Desta forma – agora sim- em uma leitura mais profunda, podemos concluir que o tema principal do texto não é especificamente o avestruz. O texto fala todo o tempo do desejo de se ter algo, e este algo é o avestruz. Existe uma situação de absurdo que se estabelece na voz do narrador-personagem e que também é transmitida para o leitor, porque que este desejo entra em conflito com o mundo adulto. Este desejo pode refletir o mundo da criança que vive em outra realidade. Talvez por ainda desconhecer todos os princípios que norteiam a vida dita como “real”.

Uma vez li a redação de um aluno que dizia que sonhava ser um personagem de anime. Também havia um programa de televisão “ O mundo da lua” em que um garoto de dez anos imaginava situações “absurdas” e as narrava em seu gravador, “Planeta terra falando...planeta terra falando...diretamente do mundo da Lua.Onde tudo pode acontecer...”no final de cada história, mesmo sem concretizar o que havia idealizado na imaginação , conseguia encontrar uma solução para os seus problemas.

Imaginar desta forma não é tão absurdo assim, não se trata de retardo, nem de uma pessoa mimada que quer tudo o que vê. Os sonhos , os desejos que temos é algo inexplicável, não tão simples de explicar dizendo que são mera fuga da realidade ou apenas busca de algo melhor.Para saber basta se questionar porque uns sonham e lutam em fazer medicina e outros nem sequer se permitem sonhar com isso. Mais ainda basta comparar nossos próprios desejos com os dos outros.Nossa visão de mundo com o mundo dos outros. E como este próprio mundo muda, com nossas vivências e com o passar dos anos.

Sendo assim, pode-se concluir que a mensagem implícita na interpretação do conto “Avestruz” são os desejos que se formam na mente de uma criança. Anseios, sonhos que se formam na imaginação e que são impossíveis de se concretizar na realidade. É preciso ler na entrelinhas para se compreender a mensagem do texto. Caso contrário nem adianta falar do avestruz, já que na verdade a leitura nem saiu do ovo. Ou seja, ler que o tema principal deste conto é ao avestruz é o mesmo que tentar descrever as características do bicho a partir do que se vê apenas ao observar um ovo. É permanecer apenas no raso, na superfície do texto.

Cantinho da Leitura

A seguir os três textos que serão ser utilizados nas situações de aprendizagem. No final desta postagem os links dos textos teóricos.


AVESTRUZ - Mário Prata


O filho de uma grande amiga pediu, de presente pelos seus dez anos, uma avestruz. Cismou, fazer o quê? Moram em um apartamento em Higienópolis, São Paulo. E ela me mandou um e-mail dizendo que a culpa era minha. Sim, porque foi aqui ao lado de casa, em Floripa, que o menino conheceu as avestruzes. Tem uma plantação, digo, criação deles. Aquilo impressionou o garoto.
Culpado, fui até o local saber se eles vendiam filhotes de avestruzes. E se entregavam em domicílio.
E fiquei a observar a ave. Se é que podemos chamar aquilo de ave. A avestruz foi um erro da natureza, minha amiga. Na hora de criar a avestruz,
deus devia estar muito cansado e cometeu alguns erros. Deve ter criado primeiro o corpo, que se assemelha, em tamanho, a um boi. Sabe quanto pesa uma avestruz? Entre 100 e 160 quilos, fui logo avisando a minha amiga. E a altura pode chegar a quase três metros. 2,7 para ser mais exato.
Mas eu estava falando da sua criação por deus. Colocou um pescoço que não tem absolutamente nada a ver com o corpo. Não devia mais ter estoque de asas no paraíso, então colocou asas atrofiadas. Talvez até sabiamente para evitar que saíssem voando em bandos por aí assustando as demais aves normais.Outra coisa que faltou foram dedos para os pés. Colocou apenas dois dedos em cada pé. Sacanagem, Senhor!
Depois olhou para sua obra e não sabia se era uma ave ou um camelo. Tanto é que logo depois, Adão, dando os nomes a tudo que via pela frente, olhou para aquele ser meio abominável e disse: Struthio camelus australis. Que é o nome oficial da coisa. Acho que o struthio deve ser aquele pescoço fino em forma de salsicha.
Pois um animal daquele tamanho deveria botar ovos proporcionais ao seu corpo. Outro erro. É grande, mas nem tanto. E me explicava o criador que elas vivem até os setenta anos e se reproduzem plenamente até os quarenta,
entrando depois na menopausa, não têm, portanto, TPM. Uma avestruz com TPM é perigosíssima!
Podem gerar de dez a trinta crias por ano, expliquei ao garoto, filho da minha amiga. Pois ele ficou mais animado ainda, imaginando aquele bando de avestruzes correndo pela sala do apartamento.
Ele insiste, quer que eu leve uma avestruz para ele de avião, no domingo. Não sabia mais o que fazer.Foi quando descobri que elas comem o que encontram pela frente, inclusive pedaços de ferro e madeiras. Joguinhos eletrônicos, por exemplo. máquina digital de fotografia, times inteiros de futebol de botão e, principalmente, chuteiras. E, se descuidar, um mouse de vez em quando cai bem.
Parece que convenci o garoto. Me telefonou e disse que troca o avestruz por cinco gaivotas e um urubu.
Pedi para a minha amiga levar o garoto num psicólogo. Afinal, tenho mais o que fazer do que ser gigolô de avestruz.

PRATA, Mário. Avestruz. 5ª série/ 6º ano vol. 2
Caderno aluno p. 9
Caderno do Professor p. 18


PAUSA - Moacyr Scliar




Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama,correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu,bocejando:
— Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a frontecalva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixavaainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
— Todos os domingos tu sais cedo — observou a mulher comazedume na voz.
— Temos muito trabalho no escritório — disse o marido,secamente
Ela olhou os sanduíches:
— Por que não vens almoçar?
— Já te disse; muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse àcarga. Samuel pegou o chapéu:
— Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente; ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas. Estacionou o carro numa travessa quieta. Como pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras.Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo.
Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com aschaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numapoltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
- Ah! seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinhobom este, não é? A gente...
- Estou com pressa, seu Raul - atalhou Samuel.
- Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. - Estendeu achave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Aochegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-nocom curiosidade:
- Aqui, meu bem! - uma gritou, e riu; um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave.Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a umcanto, uma bacia cheia d'água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinasesfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o namesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido;com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata.
Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papelde embrulho, deitou-se e fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveisbuzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculoluminoso no chão carcomido.
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa. Perseguidopor um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planaltoda testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuelmexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nascostas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados; índio acabara de trespassá-locom a lança Esvaindo-se em sangue, molhado de suor. Samuel tombou lentamente:ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama,correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu. Sentado numapoltrona, o gerente lia uma revista.
- Já vai, seu Isidoro?
- Já - disse Samuel, entregando a chave. Pagou,conferiu o troco em silêncio.
- Até domingo que vem seu Isidoro - disse o gerente.
- Não sei se virei - respondeu Samuel, olhando pela porta; anoite caía.
- O senhor diz isto, mas volta sempre - observou o homem, rindo.
Samuel saiu.
Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois,seguiu. Para casa.

MEU PRIMEIRO BEIJO-Antonio Barreto



É difícil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...
Não sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos seus milhares de bilhetinhos:
"Você é a glicose do meu metabolismo.Te amo muito!
Paracelso"
E assinou com uma letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele. Assinou com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de mulher... E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber que tipo de lance ia rolar.
No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus,
veio com o seguinte papo:
- Um beijo pode deixar a gente exausto, sabia? - Fiz cara de desentendida.
Mas ele continuou:
- Dependendo do beijo, a gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele tomou coragem e pegou na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
- A gente também gasta, na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de Substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo
menos 250 bactérias...
Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns
segundos.
E de repente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto , juntos, o abismo do primeiro beijo.Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos apaixonados por várias semanas. Até que o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone aumentaram, depois diminuíram...e foi ficando nisso. Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!

BARRETO, Antonio. Meu primeiro beijo. Balada do primeiro amor. São Paulo: FTD, 
1977. p. 134-6.
Extraído de http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=22430







Sugestões



quinta-feira, 6 de junho de 2013

Ler na escola é cafona.



Tudo é tão bonito na infância, quero dizer lá na escola de educação infantil, na educação fundamental I. A escola é colorida, há encanto na aquisição das primeiras letras, as festas e atividades desta época são movimentadas.

Será?

Apenas para alguns, pois já neste período existe o fantasma da leitura. Daquele celular na aula, do sono, da fatiga, da preguiça, do não fazer.O criança inocente passa ser o adolescente contra-tudo. E nesta lógica se torna o ser ser anti-leitura, anti-pesquisa, anti-capricho, anti-trabalho.

Por que digo isto?

O que mais vejo depois deste alegre período da pré-escola é a mais forte desmotivação. O legal é o celular. As músicas psicodélicas no fone de ouvido.Os jogos incessantes.

Quando se pede uma leitura, quem sabe de um clássico, de algo que remonte as raízes do Brasil e a própria identidade do jovem se é ignorado. Pedir uma prova de livro é quase falar uma língua desconhecida.A acidez deste discurso tem um motivo: Hoje tentei fazer uma apresentação sobre o livro Memórias de um Sargento de Milicias para alunos do segundo ano do ensino médio, a porcaria do antigo segundo grau.

Enfim...pessoas dormindo na escura sala de vídeo. Pessoas ignorando a importância do assunto.Pessoas indiferentes a leitura, ao conteúdo, a realidade qualquer que ela seja.

Alguém teve que sair depois de súplicas da minha parte para se levantarem, sentaremmmmmmmm. Ainda sofro acusação de estar gritando. Eu gritando? Pessoas insultam as outras por muito menos no trânsito. conheço bem isto. Fale com uma pessoa cinco vezes, e veja a sua própria reação após ela te ignorar. Cafona é não saber ler nem suas próprias atitudes.






#ácidahoje





quarta-feira, 5 de junho de 2013

O Estojo


Depois de ler e ouvir depoimentos e entrevistas sobre leitura e escrita, vou escrever sobre a minha experiência. Tenho um irmão chamado Reginaldo, ele é três anos e meio mais velho do que eu, então, naturalmente, começou a freqüentar a escola primeiro. Em sua primeira semana de aula, uma vizinha nossa (também proprietária da casa em que morávamos), D. Irene, deu um estojo para meu irmão; fiquei com tanta vontade de ganhar um que mal via a hora de entrar na escola e ganhar o meu também.
 Minha mãe, na época, tinha feito somente até a 2ª série, mas era muito preocupada com os estudos do meu irmão, todos os dias se sentava com ele a mesa da cozinha e retomava algumas lições e eu ficava ali, no cantinho, só espiando. Com o tempo, minha mãe começou a freqüentar o Mobral e naquela horinha de sempre, se sentava com meu irmão e juntos faziam as tarefas de casa. Nessa época, depois de tanto “encher as paciências” dela, eu também fazia parte da hora de estudo. Sem querer, talvez, e do jeitinho dela, minha mãe foi minha primeira professora.
Quando entrei na escola, já sabia ler e escrever perfeitamente. Minha mãe sempre nos contava historinhas, não me lembro de ter livros em mãos, porém, tudo era motivo para se ler: rótulos, revistas, gibis, propaganda na TV...
Hoje já não tenho minha mãe, mas tenho muito orgulho em dizer que ela foi e sempre será minha fonte de inspiração para tudo. Depois de criados, formados, meu irmão casado, meu sobrinho já ter nascido, ela , a minha Odete, concluiu o fundamental II, fez o ensino médio e iniciou o ensino superior em Serviço Social e sempre estivemos ali, juntinhas estudando.
Ah, estava quase me esquecendo, o estojo? Eu não ganhei.

DEPOIMENTO - ELAINE TEIXEIRA SANTOS

terça-feira, 4 de junho de 2013

Primeiros caminhos


A importância de se ter um interlocutor é um fato comum dos três depoimentos em questão. Este interlocutor pode ser o professor que dá as instruções do texto ou a opinião do amigo. O prazer na leitura e na escrita também é algo comum na fala dos três autores. Isto demonstra que além de se ter consciência de para quem se fala é preciso encontrar algo no texto com que o autor e também interlocutor se identifiquem, para que o texto tenha a continuidade, uma expressão. Quando comecei realmente a ler foi também desta forma; apenas aprendi a ler quando encontrei alguém para falar de assuntos que me agradassem.

Os primeiros anos foram muito difíceis, sem nenhum sentido. Era uma mera obrigação escolar, assim como foi minha primeira série. Como se fosse ontem ainda me lembro da minha avó me mostrando insistentemente a palavra “CASA”. Na prova oral, aquela palavra parecia praticamente impossível. Lembro-me do meu pai, muito bravo por eu ter escrito em uma das lições a palavra “mome” ao invés de “nome”. A compreensão das primeiras palavras, e os exercícios de escrita eram muito difíceis. Nas férias de julho, a professora havia pedido para copiar três vezes todos os dias a lição de um capítulo do livro. O texto era curto e se tratava das peripécias de um gato atrás de um rato, e apesar de gostar daquele texto, naquele tempo para mim era algo extremamente cansativo. Foi a supervisão de minha mãe que garantiu que todas a lições fossem realizadas religiosamente, e no retorno ás aulas fui uma dos poucos alunos que conseguiram realizar a árdua tarefa. O mérito é claro, era de minha mãe. Foi no final do ano que encontrei sentido nas palavras. Havia uma brincadeira de se escrever a palavra “AI” na mão do colega, e para que ele adivinhasse a palavra se apertava a mão dele com a caneta, então a interjieção era "adivinhada". Outro fato marcante era um texto, no final do livro, se tratava da música 'a galinha pintadinha', muito conhecida hoje, mas em outra versão muito simples, junto havia um desenho representando a história, quando depois de ouvir alguns colegas recitando comecei a compreender e a ler também.

Claro que depois deste texto e desta série houveram outros textos, outras séries e outros anos. E demoraria muito para eu me apropriar da escrita como a tenho hoje. Na verdade a escrita na vida de uma pessoa é feita de várias fases, várias apropriações, vários entendimentos.E de certa forma estamos sempre aprendendo,modificando e relendo.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ler é viajar





Baseando-me em um outro blog do curso, o blog do grupo 7, foi criado este blog. para o grupo 3 da turma 172 do curso de formação a distância para educadores "Melhor gestão, Melhor ensino" 1a. edição 2013.

Como foi seu aprendizado das primeiras letras?

Graciliano Ramos ao falar sobre sua alfabetização em seu livro "Infância" relata sua enorme dificuldade no principio de sua alfabetização;

"Meu pai determinou que eu principiasse a leitura. Principiei. Mastigando as palavras, gaguejando, gemendo uma cantilena medonha, indiferente à pontuação, saltando linhas e repisando linhas, alcancei o fim da página, sem ouvir gritos. Parei surpreendido, virei a folha, continuei a arrastar-me na gemedeira, como um carro em estrada cheia de buracos."

No entanto isto não o impediu de se tornar um grande escritor.
Cada um tem a sua história, e cada caminho é único como cada individuo.Qual foi o seu?


Sugestões